Você sabia que o seu vestir tem um papel fundamental na formação da sua imagem profissional? Acompanhe o artigo a seguir e entenda por que isso acontece.
Durante muito tempo as pessoas acreditavam que a preocupação com o vestir era um tipo de futilidade ou capricho. Bastava a competência intelectual para determinar o sucesso profissional. Essa ideia nos dias de hoje não é só desatualizada, mas desconsidera aspectos importantes da formação da imagem profissional.
Pierre Bourdieu, sociólogo francês, em 1983 destacou alguns atributos pessoais que as pessoas deveriam ter para se destacarem profissionalmente e socialmente: capital econômico, refere-se aos bens econômicos que uma pessoa possui; capital cultural, relaciona-se a qualificações educacionais, treinamento, habilidades e experiência profissional, além de conhecimento cultural; capital social, vinculado à rede social de contatos, aos relacionamentos. Complementado os três capitais de Bourdieu, a socióloga Catherine Hakim, professora da London School of Economics, chamou a atenção, em 2011, para um outro capital da era contemporânea: o capital erótico.
Calma, esse artigo não será desviado do foco profissional! A palavra erotismo está relacionada à desejo e não se refere somente a uma atração sexual. Ser uma pessoa interessante e ter uma aparência agradável é um jeito simples de atrair pessoas. De acordo com a socióloga o Capital Erótico envolve aspectos relacionados que vão além da beleza física como charme, desenvoltura, elegância e sensualidade. Para Hakim, o capital erótico é multifacetado, apresentando aspectos mais ou menos proeminentes em diferentes sociedades e épocas. Para que que você elimine as associações com as questões sexuais vou tomar a liberdade para substituí-lo por capital estético. Hakim, comenta que esse capital é determinado por sete elementos:
• Beleza – varia, cultura e temporalmente;
• Atratividade – característica conquistada, relaciona-se à forma como as pessoas se movimentam, falam e se comportam;
• Habilidades sociais – referem-se a graça, charme e capacidade de interação do falar ao ouvir, sendo uma capacidade que a pessoa possui no ato de conquistar pessoas, de deixá-las felizes e à vontade;
• Dinamismo – relaciona-se a boa forma física, energia social e bom humor;
• Apresentação pessoal – vinculada ao estilo de vestir e de se maquiar, ao corte de cabelo e ao uso de perfume, acessórios e adornos que as pessoas carregam para anunciar ao mundo seu status social e estilo.
Muitos livros têm sido publicados sobre o tema, mas dois chamam a atenção pelas referências que fazem às diversas pesquisas realizadas no mundo todo sobre o poder do capital erótico: o do economista americano Daniel Hamermesh (2011), Beauty pays: why atractive people are more successful (A beleza rende: por que as pessoas atraentes têm mais sucesso), e o da socióloga inglesa Catherine Hakim (2011), Honey money: the power of erotic capital (Dinheiro doce: o poder do capital erótico).
Para endossar os argumentos de Hakim, várias pesquisas são apresentadas. Dentre elas, uma realizada nos EUA e no Canadá, que aponta que homens atraentes ganham entre 14% e 27% mais que os homens não atraentes e que para as mulheres a diferença varia entre 12% e 20%. Pesquisa realizada pela revista Newsweek com 202 profissionais de recursos humanos apurou os seguintes critérios para contratação: experiência, autoconfiança, aparência, escolaridade. De acordo com a pesquisa, a aparência exerce fator importante na hora do desempate. Recrutadores da área de Recursos Humanos orientam que os candidatos devem se preocupar não apenas com seus currículos, mas também com questões ligadas à aparência. E você já está entendendo que as roupas têm um papel indiscutível na sua aparência e no seu capital erótico, não é mesmo? Vamos prosseguir com mais argumentos para te provar que vale à pena refletir sobre o seu vestuário no ambiente profissional.
Na formação da primeira impressão a visão é o sentido que mais fortemente capta informações sobre as pessoas. Quando vemos alguém pela primeira vez nosso cérebro age como um scanner rápido e absorve como o outro se veste, se movimenta, fala, gesticula e se comporta no geral. Com essas características em mente formamos um texto sobre quem é a pessoa que estamos conhecendo. É um texto intuitivo que também se relaciona com experiências prévias e individuais. A partir desse texto inicial nosso cérebro cria um filtro que gerará expectativas sobre como o outro se comportará no futuro. As confirmações das ideias iniciais da primeira impressão são facilmente apreendidas neurologicamente. Por outro lado, uma impressão inicial errada traz mais trabalho cognitivo para o cérebro e requer mais atividades neuronais para ser desfeita. Em resumo, sabe o que toda essa história de primeira impressão significa? Que precisamos cuidar para criar a impressão certa sobre quem somos desde o primeiro encontro com nosso cliente, pois não sabemos se teremos a oportunidade de realizar um segundo atendimento ou, pelo simples fato de ser muito mais trabalhoso desfazer uma errônea impressão ao nosso respeito.
E o que as roupas têm a ver com tudo isso? Um dos elementos mais marcantes na formação da primeira impressão está justamente no nosso vestir: as cores das roupas, o caimento, tecido, estilo e composição com os acessórios. Antes mesmo de falarmos qualquer coisa ou de demonstrarmos nossa competência profissional o seu cliente já faz uma análise prévia, inconscientemente ou não, se você é confiável, responsável e bom profissional pelo seu jeito de vestir. E eu duvido que você queira que esse cliente crie uma imagem (ou um texto mental) que o considere desleixado, descuidado ou alguém que aparenta ser malsucedido, não é mesmo?
Agora, vou usar a neurociência para confirmar a importância do seu vestir. Você sabia que a roupa que você veste interfere em seus processos cognitivos? Cientistas têm se debruçado sobre o tema conhecido como Cognição indumentária. Pensamos não apenas com o cérebro, mas com o corpo, disse Adam D. Galinsky, professor da Escola Kellogg de Administração da Universidade Northwestern, que liderou o estudo. Para Galinsky, nossos processos de pensamento são baseados em experiências físicas que desencadeiam conceitos abstratos associados. Essas experiências incluem também as roupas que vestimos. Pesquisas feitas com médicos demonstraram melhor desempenho ou atenção quando estavam com jaleco em comparação ao momento em que não o utilizavam. Claro que isso não quer dizer que a falta do jaleco prejudica o exercício profissional na área da saúde. Mas, de alguma forma, todos nós temos simbolicamente conceitos do que nos torna mais confiantes na nossa profissão. Assim como um salto alto pode tornar uma mulher mais empoderada, o uso de uma gravata pode trazer mais seriedade, uma roupa com cores alegres quando se está triste pode interferir no humor e uma preparação cuidadosa do seu vestir para um dia no seu consultório também poderá te trazer mais confiança e segurança nas suas tarefas profissionais. Escolher conscientemente e não aleatoriamente seu vestuário pode ser um caminho interessante para o seu sucesso e para como você se comporta no mundo.
Por fim, como fonoaudióloga e doutora em análise do discurso, não posso deixar de comentar que a imagem pessoal é um importante aspecto da comunicação não verbal. Inúmeras pesquisas contemporâneas comentam que no impacto da comunicação “o que” dizemos influencia muito nossa capacidade de persuasão e convencimento, mas “como” dizemos tem uma força ainda maior. Ou seja, é super válido cuidar do nosso vocabulário, ler bons livros e estudar bastante. Mas, valorizar apenas esses aspectos e esquecer dos aspectos não verbais como a nossa postura corporal, tom de voz, gestos, expressão facial e o nosso vestir pode colocar em questionamento toda nossa competência. Você sentiria segurança sendo atendido por um profissional de saúde que usa roupas sujas ou prefere alguém com roupas impecáveis e limpas? Sentiria abertura em falar sobre suas questões ou dores para um profissional que não olha em seus olhos ou fica uma sessão inteira de psicoterapia de braços cruzados ou se consultar com um profissional simpático, acolhedor e que te ouve atentamente olhando pra você enquanto te escuta?
De forma resumida, podemos concluir que o cuidado com o vestir no ambiente profissional é uma maneira de cuidar da formação da impressão que o seu cliente fará sobre você, poderá te trazer mais confiança e segurança e ainda comunicará que você é cuidadoso com o seu trabalho e com os seus clientes. Quando falo sobre esse cuidado não me refiro a utilização de roupas caras e tecidos sofisticados. Estou me referindo a um autoconhecimento sobre o que fica bem em você, às cores que realçam naturalmente sua beleza, ao uso adequado de acessórios e ao estilo que combina com o seu exercício profissional. Uma autoanálise criteriosa poderá te ajudar a descobrir informações valiosas sobre o seu vestir. Se não conseguir fazer isso sozinho (a) procure um amigo da sua confiança ou contrate um profissional que te oriente melhor. Invista no seu capital estético, cuide da sua imagem, invista em você!
Rachel Loiola
Fonoaudióloga, Consultora de Imagem Pós-doutora em Comunicação e Semiótica
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